A internet das coisas
Por The New York times
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Já faz anos que o Vale do Silício fala com empolgação num conceito conhecido como Internet das Coisas. O raciocínio determina que praticamente tudo – seja uma camiseta, um brinquedo, uma parede ou um recipiente de leite – terá embutido algum tipo de sensor que transmita informação. As pessoas falam em geladeiras capazes de discernir o que há em seu interior e recomendar receitas ou solicitar a entrega de mais leite quando a embalagem aberta se aproximar do fim. Ou talvez um restaurante seja capaz de obter algum tipo de informação sobre sua equipe de garçons com base no acompanhamento do movimento dos pratos.
Muitas das sugestões e hipóteses soam irreais e acrescentam níveis de complexidade a situações nas quais a ordem atual das coisas funciona perfeitamente bem. Mas os defensores da Internet das Coisas dizem que, nestes primeiros dias de uso da tecnologia, é realmente difícil para nós imaginar as invenções úteis que as pessoas poderão construir com tais sensores.
A fabricante britânica de chips ARM Holdings criou um programa que tem como objetivo incentivar tais inventos recorrendo à imaginação do público. (Escrevi um perfil da ARM Holdings para a edição de segunda feira do New York Times, detalhando seu provável papel de destaque na Internet das Coisas).
Chamada de mbed (uma brincadeira com a palavra 'incorporar'), a iniciativa de pesquisa oferece a engenheiros e amadores um kit microcontrolador – uma espécie de computador básico de baixo consumo de
energia contido num chip – por cerca de US$ 59. Então a ARM torna disponível um conjunto de ferramentas de software para dar vida ao microcontrolador e associá-lo a outros itens interessantes como acelerômetros, giroscópios, câmeras, telas e termômetros.
Simon Ford, pesquisador da ARM encarregado de liderar o projeto mbed, disse que o pacote de hardware e software que ele criou poderia trazer os microcontroladores a um novo público por meio da remoção de alguns
dos empecilhos técnicos associados à programação dos chips. O dispositivo mbed pode ser plugado diretamente na entrada USB de um computador, sendo identificado pelo PC como um flash drive. Os usuários
podem então criar programas ou baixar módulos existentes do site do mbed na internet e botar o aparelho para funcionar em questão de minutos.
"Fiquei intrigado com o fato de as pessoas da indústria dos microcontroladores não serem aquelas que inventarão um uso para este produto", disse Ford. "Se existe um sujeito que entende de microcontroladores e um pecuarista suíno que entende de pecuária suína, é o pecuarista quem vai enxergar uma forma de automatizar a alimentação de seus animais para ganhar algumas horas de sono."
"Quero descobrir uma maneira de incentivar as pessoas a fazerem experimentos. Talvez um mecânico de máquina de lavar descubra uma forma de fazer com que as máquinas o informem sobre seu funcionamento,
revolucionando a indústria das máquinas de lavar para obter uma vantagem sobre a concorrência. A questão é que não sei como os microcontroladores serão usados."
Milhares de pessoas aderiram à proposta mbed, e muitas delas publicaram detalhes de suas experiências no site do projeto. O dono de um bar de Las Vegas, por exemplo, usou a tecnologia para instalar medidores de vazão em seus barris de cerveja para acompanhar quantos litros são consumidos por dia. "A tecnologia só é bacana se solucionar um problema real", disse Ford. "Esperamos que esta seja uma forma de trazer a tecnologia até as mãos de um grande número de pessoas. A tendência faz muito sucesso no Japão, o que é muito interessante."
/ASHLEE VANCE (THE NEW YORK TIMES)